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A paz alcançada é um importante passo, sem dúvida. Era irrecusável. Não sei se terá sido tão importante a guerra que a justificou. Sobretudo quando lemos o longo e penoso caminho percorrido à luz dos seus resultados. Para já, Governo e sindicatos de professores alimentaram uma guerra que introduziu muita intranquilidade nas escolas, com claras perdas para a qualidade do ensino e das aprendizagens e com evidentes e enormes prejuízos para a imagem social da escola "pública" e da profissão docente.
Para o futuro, podemos e devemos perguntar: o que vão fazer os novos directores das escolas (no meio desta guerra as escolas passaram a contar com directores, escolhidos por um conselho de escola) com este instrumento de gestão? Sim, estamos diante de um mero instrumento de gestão cuja importância ou insignificância vai depender das políticas de direcção e gestão das escolas. Vai servir o quê, quem, para quê? Os directores e as escolas ganharam mais um instrumento de gestão escolar, para que melhorias na qualidade da educação? Não sabemos. E é aí que a nossa atenção deverá estar focada. As escolas e os seus directores continuam prisioneiros da administração central e desconcentrada.
Joaquim Azevedo (Professor da Universidade Católica e membro do Conselho Nacional de Educação)
"Há condições para tornar as escolas mais eficazes"
Penso que este acordo é um passo muito importante para restabelecer a serenidade e a tranquilidade nas escolas e no seio dos professores. Parece-me, no entanto, que, mais do que aquilo que possa representar para os professores e para as suas carreiras, é um sinal no sentido de que há condições para fazer funcionar as escolas de uma forma mais eficaz, isto é, tendo em conta os reais objectivos da escola, que são ensinar melhor, fazer com que os alunos aprendam mais e tenham maior capacidade para enfrentar a vida que os espera. Os pais querem para os seus filhos uma escola mais exigente, porque sabem que nos dias de hoje não basta passar de ano e ter boas notas. É preciso saber, é preciso saber muito, é preciso saber pensar, é necessário ser responsável, ter iniciativa e, sobretudo, capacidade para lidar com a mudança.
Espero que a partir deste início de ano ministério e sindicatos aprendam com os erros cometidos no passado, porque a situação de bloqueio a que se chegou se deveu a ambas as partes. Esperamos agora por políticas públicas que aumentem a autonomia das escolas, porque muitos dos problemas com que a educação se debate se podem resolver dentro da própria escola, sem ter que recorrer à administração central.
O país deve muito a muito dos seus professores e só com professores motivados, competentes e que sejam capazes de assumir um papel de referência perante os seus alunos se encontrarão os caminhos para uma escola que responda às necessidades do país.
Eduardo Marçal Grilo (Administrador da Fundação Gulbenkian e ex-ministro da Educação)
Depoimentos no Jornal "Público" de 10/01/10
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